sexta-feira, 4 de novembro de 2016

COMO NAUFRAGO

Me sinto um naufrago!

Não me sinto à deriva, sinto-me como que numa ilha, olhando para todos os sentindo, para todos os lados, sem ver sentido algum, sem sentir, sem ouvir, sem definir para onde ir, nem porque razão ficar, se é que há razão nessa minha intenção!

Dúvida cruel! Divida cruel! A vida me impôs limites ou mesmo os criei quando fiz minhas escolhas? E agora como ampliar o lugar de minha tenda? Minha choupana por pouco não se esvai, sendo quem somos, como o vapor ou como a simples flor, brota, desabrocha, que cresce, nem se reproduz e vai ao vento, ao relento, lento; agora, ando ou vago eu perdido como um na multidão em solidão!

Devaneios! A vida que anseio em nada se compara com a vida que vivo, mas que deveria ser um vislumbre da vida do porvir pelo qual julgo lutar, sem se afobar, mas quase sempre a fraquejar!

Solicitude! Licitude! Independentemente do que vivi, o certo e o porvir, devem ser vividos aqui, ali, agora, hoje, esquecendo o que não vivi, mas que deveria em mim existir, já não mais existirá o por vir, se por fim não agir como em fim, devemos todos agir!

Ufa, já não tenho ou não sei mais o que escrever, resta-me viver a vida que me resta, sem ser o resto que fui, que não devia ser, e que não posso ser. Nessa singularidade, serenidade, permissividade, nocividade fui-me, quando deveria ter permanecido para sempre, não sendo quem sou, ou não sendo sempre o mesmo, mas sendo eu mesmo, mas nunca o mesmo!

Conflitante, agoniante, extenuante, exuberante... As palavras, um naufrago...

- Gustavo Clemente